terça-feira, fevereiro 13, 2007

Fui eu!

Há cerca de um ano que não exercia aqui o direito, que me foi outorgado pelo abnegado assessor cultural Joaquim, de, perante o seu auditório fiel, expor, com a minha habitual clareza e objectividade, que tanto diferem do meu confuso antecessor, as mais avançadas ideias sobre o futuro da nação de que todos somos filhos.

Antes de mais queria ilibar o assessor Joaquim de quaisquer responsabilidades no trágico resultado do referendo. O verdadeiro responsável pela hecatombe fui eu. Estava plenamente convencido - não tenho ainda um assessor para esta área - que devido ao tão propalado aquecimento global, haveria de no dia onze de Fevereiro estar já um calor do caraças, o que levaria os abortistas a passar o fim-de-semana na praia e a esquecerem-se de ir votar. Em termos das teorias económicas mais modernas - que é, como sabem, a minha especialidade - era isso que deveria ter acontecido. Mas o S. Pedro - que eu desde já coloco na lista dos suspeitos - trocou as voltas às minhas contas (o que em termos económicos nem foi mau, porque os abortistas depois de votarem, aproveitaram o facto de já estarem na rua e foram para os centros comerciais gastar o dinheiro que ainda têm nos cartões de crédito). Pelo contrário, a população envelhecida e caquética (que noutros aspectos é o nosso maior entrave ao desenvolvimento e à modernização) que estávamos à espera que enchesse as urnas de votos no não, ficou em casa cheia de achaques e reumático e nem tiveram oportunidade de usar o passe social do idoso para ir à junta de freguesia. Correu tudo mal. Mas a responsabilidade é minha.

No sábado ainda fiz uma desesperada tentativa. Na reunião da manhã que tive com o assessor Joaquim na sua excelente marquise oval, apercebi-me que continuava a chover e bastante frio para o que eu tinha previsto. Vi então que as coisas estavam malparadas. Foi a brilhante inteligência do assessor Joaquim que me deu a ideia: o Perufeçor tem que ir hoje ver a Música no Coração!

Reconheço que foi uma ideia excelente para um dia de reflexão. Fui com a família toda e mais os jornalistas que estavam disponíveis, ver o musical que é, na sua essência mais básica, um hino contra o aborto. O capitão Von Trapp é um exemplo de como se devem pôr as mulheres a parir sequencialmente para o bem da nação. Não gastava dinheiro em porcarias para não engravidar, o que é uma excelente opção económica; a mulher nunca deve ter chegado a saber o que era andar sem barriga, o que reduz a hipótese de infidelidade e permite o aproveitamento das indumentárias quer de grávida, quer de recém-nascido; e não menos importante permitiu ao capitão ser um viúvo jovem, o que sabemos ser hoje cada vez mais raro, obrigando os homens a dispendiosos divórcios. Estamos portanto perante um musical que defende os valores da família com unhas e dentes e que deveria servir de exemplo para as mulheres portuguesas que andam a descurar a natalidade deixando-me muito preocupado por não saber quem é que vai pagar as reformas a que tenho direito quando abandonar as canseiras desta dura vida de trabalho.

Fica aqui portanto a minha assunção de todas as responsabilidades pelo fracasso do não. Noutra ocasião falarei dos efeitos económicos deste descalabro moral. A bem da nação.

O Perufeçor

5 comentários:

Didas disse...

Ai meu deus que nem estava habituada! Vi-me à rasca para ler este. Jakim, volta! estás perdoado!

Fausta Paixão disse...

jakim, o teu homem vai para o céu. não queiras ir com ele, ainda estás a tempo de saborear os prazeres do Inferno.

Unknown disse...

navegando,navegando,cá estou!sinceramente não percebi uma vírgula.mas adorei á flexibilidade da língua portuguesa.

Ivar C disse...

jakim... ganhaste um prémio. Aaaaaaaaltamente!

Mónica disse...

e mais dois com a perceptora :-)